2 de fevereiro de 2010

Considerado um milagre, Drogba é exaltado nas ruas de Yopougon


Basta ligar a câmera para que elas comecem a surgir. Cinco, dez, vinte crianças vão chegando de todos os lados e em menos de cinco minutos já há umas 30 pulando para aparecer. Elas querem ser fotografadas, filmadas, e para isso cantam, gritam e sorriem sem parar. Há 25 anos, o hoje milionário atacante Didier Drogba, do Chelsea, era como elas. Vivia pelas ruas de Yopougon, bairro pobre e o mais populoso de Abidjan, e era feliz por estar ali. Não entendia ainda o que era futuro, não se preocupava com dinheiro, só sabia como era gostoso jogar bola descalço na rua.

Mas o pai Albert, que trabalhava em um banco, resolveu mandá-lo para a França morar com o tio, um ex-jogador de futebol. Era a oportunidade de Didier estudar em melhores colégios e de seguir a carreira do tio para tentar fazer fortuna. O problema é que o menino, então com apenas cinco anos, não queria ir.


- Os africanos são acostumados a crescer com muitos familiares e amigos a sua volta, muitas vezes morando na mesma casa. Então você imagine o Didier ainda criança acordando na França e só tendo o tio por perto. É claro que ele não gostou, chorou, queria voltar - conta Karamoko Touré , amigo do pai de Drogba.

Ele chegou a retornar à Costa do Marfim, com oito anos, mas mudou-se definitivamente com os pais para a França, em 1991, aos 13. A pressão de Albert para que Drogba se tornasse um jogador aumentou e acabou interferindo no relacionamento dos dois.


- Eles ficaram muito tempo sem se falar direito, Didier não aceitou muito a forma como o pai dele fez as coisas. Por isso ele sempre foi muito mais apegado à mãe. Mas de uns anos pra cá os dois voltaram a se falar melhor. Acho que por causa desses problemas, Didier acabou não passando por uma formação ideal no futebol, tanto que apareceu tarde, com mais de 20 anos. Por isso pra mim o sucesso dele não deixa de ser um milagre - explica Touré.


De fato o maior goleador da história da seleção marfinense só conseguiu se destacar aos 22 anos, jogando pelo modesto Guingamp, da França. Mas desde então traçou uma trajetória meteórica. Em uma temporada, fez 20 gols e se transferiu para o Olympique de Marselha. Precisou de apenas mais um ano para despertar o interesse do Chelsea, que o contratou em 2004. E nas últimas seis temporadas, Drogba se transformou em um dos grandes atacantes do planeta e no maior ídolo da Costa do Marfim. Uma estrela do futebol, centro das atenções de câmeras do mundo todo.

Mais do que isso, Drogba tornou-se um exemplo para os meninos de Yopougon. Basta falar nele para que as crianças comecem a cantar o nome do artilheiro, que veio do mesmo chão de terra que elas.

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