30 de outubro de 2010

Entrevista com Décio Lopes


Hoje começamos no blog uma seqüência de entrevistas onde teremos alguns entrevistados contando um pouco sobre a carreira como jornalista ou como jogador de futebol.

Nosso primeiro entrevistado é o jornalista Décio Lopes que trabalha na Sportv e comanda o programa "Expresso da Bola".

Décio foi repórter da TV Globo por dez anos, depois tornou-se chefe de edição de programas como o Globo Esporte e o Esporte Espetacular. Apresenta desde 2002 o programa Expresso da Bola, no SporTV, além de escrever diariamente no GloboEsporte.com o blog Expresso da Bola e fazer participações em alguns programas no SporTV.


Acompanhe agora a entrevista feita com Décio Lopes, nosso primeiro entrevistado:



Lucas Mergel : Você já entrevistou muitos jogadores brasileiros fora do Brasil. Qual foi o país mais longe que você foi para entrevistar um jogador, e qual foi o lugar mais inusitado que você se deparou ?

Décio Lopes : O mais distante foi o Japão. Ou A Coréia do Sul. Nossa, é muito avião pra chegar lá! Chega a ser desesperador. Confesso, aliás, que não gostei destes países. Não recomendo. Não vale a viagem (ao contrário de China e Austrália, distantes pra caramba, mas muito legais). 
O lugar mais inusitado acho que foi a Tanzânia, onde o Brasil fez um amistoso, antes da Cop 2010. Praias lindas, natureza exuberante, mas um país absurdamente pobre e caótico. Pessoas muito simpáticas mas, infelizmente, sem qualquer esperança de uma vida mais justa e digna.
Quadro semelhante eu encontrei no Níger - mas estive lá cobrindo o Paris-Dakar 2000 e não futebol.

LM : Há quantos anos você é jornalista ? E qual seu conselho para os estudantes que querem seguir a carreira como jornalistas ?

Décio : Comecei há 21 anos, mas parece que foi anteontem. Vem sendo uma delícia trabalhar com esportes neste tempo todo. E com tv. Eu adoro. Este é o primeiro conselho: só entre nesta se vc realmente gostar. Vc vai perder milhares de fins de semana, de feriados, dias santos... Vc vai respirar isso. Tem que gostar muito!
O segundo é mais importante  ainda: LER. Muito! Tudo! Não só esporte ou jornalismo. Tem que ler muito de tudo! Livros, especialmente. Quem nao lê muito nunca vai escrever bem.
Ler muuuuuuuuito. Vale mais que qualquer curso ou aula.

LM : Em toda sua carreira atuando como profissional de jornalismo, qual foi o momento mais marcante ?

Décio : Foram muitos, mas eu destacaria três: o meu primeiro dia em uma Olimpíada, em Sydney 2000; o penta do Brasil lá no Japão em 2002 e, mais que tudo, o desfile da seleção por Porto Príncipe, no amistoso da paz. Um milhão de pessoas nas ruas do Haiti e uma emoção que só senti maior no nascimento dos meus filhos.

LM : Qual foi ou qual é o melhor atacante que você já viu jogar ao vivo ?

Décio : Boa essa.
Quando era criança eu vi o Rivelino - que jogava do meio para a frente e para a ponta - fazer magia. Um gênio! se não tivesee  vivido na mesmo época que Pelé seria mais lembrado e tratado hoje como um Deus do futebol.  
Ronaldo na Copa de 2002 foi um monstro. Arrasador. Demolidor. Espetacular. Ainda mais voltando de uma longa lesão e de muitas críticas e dúvidas.
Também vi, no ano passado, da beira do gramado no Camp Nou, um atuação inesquecível. Daquelas para contar aos netos: Messi diante do Arsenal pela Champions League.  

LM : Qual seria sua seleção dos sonhos no futebol mundial (englobando todos os tempos) ?

Décio : Puxa, esse eu juro que vou pular e ficar em cima do muro. Não por falta de coragem, mas porquer seria injustiça. Eu não vi Puskas, Di Stefano, Garrincha, Didi, Zizinho... E anteriores, da década de 40, 30... O problema destas listas é que a gente acaba que bucas de 70 pra cá. Ou de 80 pra cá... E o velhinhos, coitados? Ou jogadores já mortos e muitos esquecidos? Prefiro dizer que amo o futebol por todos os gênios que, desde a Copa de 30, fizeram deste o esporte n;umero um da humanidade.  

LM : O que você acha que o Brasil tem que melhorar para que a Copa do Mundo de 2014 seja extremamente vitoriosa para nós ?

Décio : Acho que, no fundo, é meio casual. Claro que vc tem que fazer um bom trabalho, ter ótimos jogadores, renovar, dar espaço para o talento e ao mesmo tempo construir uma defesa sólida. Claro que vc precisa deixar o estilo brasileiro aparecer. Precisa de um time unido, de um preparo físico fantástico... 
Mas a diferença entre um título de Copa e uma derrota é muito pequena. E às vezes casual. 
Se agora, em Port Elizabeth, o Sjneider não tivesse cruzado uma bola que entrou sem querer, a história seria outra. Ele meteu na área, nao tocou em ninguém e foi pro gol. E aí os brasileiros entraram em pane. 
Se em 2002 o árbitro não tivesse errado diante da Bélgica poderíamos passar um vexame histórico, eliminados nas oitavas por uma seleção fraca.
Aí todos, especialmente nós jornalistas, entramos numa de criar teorias, teses científicas e o escambau. Para explicar algo quase casual. 
Dunga poderia ter levado o Ganso? Poderia. Poderia ser menos grosso e criado um clima de menos tensão? Poderia. 
Mas a diferença entre a glória e desgraça em uma Copa é um lance fortuito, um acaso. 
Acho que o Brasil está bem. Sempre haverá erros e acertos. E agora é torcer para que tudo dê certo. Craques nao faltam.  

LM : Qual é a torcida mais fervorosa do mundo, na sua opinião ?

Décio : Schalke e Borussia têm torcidas muito grandes e fiéis.
Flamengo e Corinthians são nações apaixonadas.
Mas acho que as torcidas mais efetivas do mundo, aquelas que mais fazem a diferença são as argentinas. A do Boca é um arraso.

LM : José Mourinho é o melhor técnico do mundo. Concorda com essa afirmação ?

Décio : Concordo. E os resultados provam isso.
Mas, como eu disse, o futebol é meio casual. E até o Mourinho erra um bocado.
Não estamos diante de uma ciência. Muito menos uma ciência exata.
Mas não tenho dúvidas de que ter o "special one" no banco, assim como ter o Muricy aqui no nosso estilo de jogo, é um belo passo para chegar aos títulos.

LM : Você acredita que Mano Menezes fará um bom trabalho frente a seleção brasileira ? Gostou do inicio de trabalho dele ?

Décio : Gostei. Eu até critiquei a primeira convocação dele mas depois também escrevi no blog que me arrependi, fui rabujento demais. Na verdade o que me ofendeu foi a falta de jogadores da Copa 2010 na primeira lista. Achei que, naquele momento, parecia injusto com os jogadores que ficaram em primeiro do ranking mundial por tanto tempo, que ganharam a Copa América e das Confederaçoes, que foram os primeiros das eliminatórias, dando chocolate nos argentinos. Parecia que depois do jogo com a Holanda todos viraram uns porcarias e mereciam o esquecimento e a condenação pública. na verdade nem pelo jogo todo, mas pelo segundo tempo contra a Holanda. Era injusto. 
Depois fui vendo que a intençao dele não era essa. Mano é um cara inteligente, educado, aberto ao diálogo, preparado para o cargo. Ele quer testar jovens, formar um time olímpico e, paralelamente, dar um descanso aos veteranos. 
Acho que o trabalho vai bem, mas fica prejudicado sem o maior nome brasileiro entre os jovens - disparado - que é o Ganso. 
Em novembro o amistoso é contra os argentinos. Aí, sem Ganso, não dá pra escalar só moleque, nao... Aos poucos ele  vai reincorporar alguns "veteranos"q ue têm qualidade e vontade de vestir a amarelinha: Kaká, Elano, Lúcio, Julio... eu espero que sim.

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